Um capítulo negro da historia do Brasil, os campo de concentração em Senador Pompeu

“E você tem visto muito horror no campo de concentração?”, pergunta o sertanejo Vicente a Conceição, personagens do romance O Quinze, da escritora Rachel de Queiroz. Os dois conversam não sobre as prisões nazistas construídas durante a Segunda Guerra Mundial, ou seja, quase três décadas depois. O diálogo diz respeito aos currais erguidos no Ceará pelos governos estadual e federal para isolar os famintos da seca de 1915, considerada uma das mais trágicas de todos os tempos no Nordeste.

Para entendermos uma página negra da história do Brasil, ocorrida no Ceará, primeiramente durante a sêca de 1915 e depois repetida em 1932, é necessário voltarmos um pouco no tempo, até 1877, época de outra grande seca que assolou o estado nordestino. 

Como é sabido por todos(ou ao menos deveria ser) a seca sempre foi um flagelo sazonal no Cariri. A falta de uma política efetiva, nesse sentido, perpetua o sofrimento dos irmãos nordestinos ao longo dos séculos.
Em 1877, ainda no tempo do império, a grande seca que assolou o sertão cearense, fez com que uma grande masse humana se deslocasse em direção das grandes cidades da época, como por exemplo Fortaleza, que obviamente era dominada pelas elites. Pressionados pela fome e pela falta de condições de sobrevivência e não encontrando resposta para as mesmas, esse famélico cortejo invadiu a capital da terra do sol e passou a saquea-la.
Durante esse período (1877-1879) a soluçaõ encontrada pelo governo foi incentivar os flagelados a colonizarem a Amazõnia, originando assim o primeiro Ciclo da Borracha.
Em 1915, nova seca fez com que os sertanejos se dirigissem para as grandes cidades ,desta feita o Governo do Ceará, optou por criar o primeiro ” campo de concentração, no alagadiço, hoje Otávio Bonfim, ao oeste da cidade de Fortaleza, lá foram “abrigadas” mais de 8 mil almas a quem eram fornecidas aliementação sob a vigília constante de soldados. Mais uma vez foi estimulada a migração para a Amazõnia e o campo ( curral humano ) foi desativado em novembro do mesmo ano.
Em 1932, nova seca assola o Ceará e novamente o movimento dos sertanejos se faz em direção às grandes cidades atendidas pela via férrea. Desta feita o governo instala novos campos de concentração, cercados por arames farpados e vigiados por soldados em:
Senador Pompeu, Ipu, Quixeramubim, Cariús, Crato ( Buriti, por donde passaram 65.000 pessoas ) além do ja conhecido campo do Alagadiço( OTávio Bonfim)  e o novo campo a noroeste da capital, o Pirambu, mais conhecido como o  Campo do Urubú.

Relato de quem sobreviveu ao campo de concentração
Campos projetados para abrigar 2000 pessoas, chegaram a manter 18.000 flagelados. As condições de higiene inexistiam, as pessoas viviam em verdadeiros currais.
Ao chegar tinham suas cabeças raspadas e era obrigadas a usar um uniforme feito de sacas de açucar, confeccionado por eles mesmos.

A cabeça raspada impedia a proliferação de piolhos, no entanto, as péssimas condições de higiene, alimentação precária e um surto de cólera, dizimaram milhares de sertenejos presos nesses campos de concentração tupiniquins.
“A seca de 1932 foi uma das maiores da história do Ceará. Fome e doenças como cólera, febre amarela e varíola marcaram aquele povo sofrido pela sede e fome. Senador Pompeu foi uma das cidades que abrigou um dos sete campos de concentração, criados pelo governo da época para deter a vinda de retirantes à Fortaleza.”
Mais uma vez o governo mandou milhares de cearenses para a amazônia , dando origem ao segundo ciclo da borracha.
Estima-se que cerca de 73 000 flagelados foram confinados nesses campos onde as condições eram desumanas, o que resultou em inúmeras mortes. Ainda durante essa seca, flagelados cearenses foram enviados para o combate nas trincheiras da Revolução de 1932 em São Paulo.
Com o advento da segunda guerra mundial e temendo comparações com os campos de concentração nazistas ( a única diferença na verdade era que aqui se tratavam de sertanejos, cujo único crime era passar fome ,e lá,na verdade quem sofriam eram predominantemente os judeus, acusados de deterem todas as riquezas da Alemanha) os tais campos de concentração foram totalmente desativados e em outras ocasiões subsequentes e semelhantes, criaram-se albergues ounde a população flagelada recebia melhor tratamento.
Documentário sobre o Campo de Concentração.
Quanto ás mortes também não se pode considerar que os campos de concentração cearenses tinham a intenção de ser campos de extermínio, mas sim o de afastar do olhar das elites das grandes cidades a face da pobreza de seus semelhantes que viviam no sertão.
-Qualquer semelhança com fatos contemporãneos não será mera coincidência.-
De qualquer maneira, milhares de pessoas morreram, outro tanto foi enviado para bem longe, de forma que, ao invés de se solucionar o problema das secas, dava-se sumiço aos que dela padeciam
Toda documentação desses infames campos de concentração tupiniquins tem sido oculta ao longo das décadas , embora haja hoje ação na justiça solicitando a identificação, via dna de todos os mortos sepultados em valas comuns e seu translado para cemitérios regulares.
Pleiteia-se também indenização para os sobrevibentes eseus descendentes.
A “Justiça” ceraense, manobra de todas as formas possíveis, extinguindo as ações sem julgamento de mérito , tentando com isso fazer permanecer no esquecimento essa página negra da nossa história.
Em Senador Pompeu, esta triste memória permanece viva graças ao misticismo das pessoas que acreditam que as almas sofridas, enterradas no improvidado “cemitério da barragem” atendem a pedidos e fazem milagres.
“O governo obrigava as vítimas da seca a trabalhar na construção da barragem do açude Patu. No entanto, repentinamente, a obra teve seus trabalhos paralisados e, junto com a paralisação, o governo deixou de manter o posto de saúde e o setor de fornecimento de alimentos que funcionava no campo. Com isso, os retirantes foram adoecendo e morrendo.

Atualmente, Senador Pompeu é o único município onde se encontra viva a memória do campo de concentração. O cemitério da Barragem do Patu é considerado um espaço sagrado para visitação. Há romarias, pessoas que rezam e pagam promessas. Os moradores acreditam que as almas dos concentrados são milagrosas, porque sofreram muito”.

Existem diversos artigos sobre esse assunto na net e pra quem se interessar vou passa alguns link.

Currais humanos

Campos de Concentração no Ceará

Campos de Concentração no Brasil

Ceará: nos campos da seca

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About Wellysson Viana

Blogueiro a alguns anos postando no Injuado.com, musico amandor, viciado no mundo maravilhoso da internet e tudo que ele envolve...por hora e só :)

Posted on March 15, 2011, in Conscientização, Curiosidades and tagged , . Bookmark the permalink. 24 Comments.

  1. Ótimo artigo, infelizmente o Brasil tem um passado não muito bonito , mas nem por isso a história deve ser negada pq dessa forma podemos ver os erros do passado e não repeti-los

  2. muito paia essa matéria,
    o assunto é desprezivel

    • Agradecemos seu comentário e ficamos felizes em saber que mesmo sendo uma matéria “paia” você perdeu seu tempo lendo ela a não ser que você seja um desses ignorantes que sempre gostam de criticar sem saber sobre o que esta falando, mas logicamente creio que não e isso.

  3. Muito boa sua materia!! realmente, sou daque do ceara, sei, e gosto muito de saber da historia desse meu estado lindo, mas nunca tinha ouvido falar sobre isso antes!! Ta de parabens sua materia!

  4. Otimo post… Realmente ha muito o que se aprender sobre o nosso Brasil..
    Uma pena que essas pessoas sejam tao injustiçadas mesmo depois de tanto tempo..e
    Espero que se faça justiça algum dia….

  5. Realmente o Brasil não tem memória, ou melhor, as elites e o governo não querem que nós saibamos desses eventos negros da história do país.

  6. tambem nunca ouvi falar sobre isso , e primeira vez!!!
    eu tambem acho certo tentar identificar os corpos das pessoas
    que morreram mas creio que isso nao seja possivel, se o poder publicoe preguiçoso
    agora imagine naquela época!!!
    alem do mais esse negocio de indenizaçao ta e mais cheirando desvio de verbas
    politicos e corruptos NUMCA perdem oportunidade,por culpa eles aquelas pessoas morreram
    e sofreram e agora os mesmos vão querer ganhar dinheiro na desgraça ocorrida.

  7. Ótimo artigo, sou nordestino e só agora estou conhecendo essa triste e preconceituosa e criminosa história dos campos dos flagelados das secas!

  8. Parabéns pela materia, precisamos manter nossas memorias vivas para que erros do passado não se repitam.

  9. Meus bisavós saíram do Ceará para trabalhar na Amazônia no início do século XX e minha avó chegou ainda menina na Bahia, trazida por familiares após a morte de seus pais. Acredito que meus bisavós foram vítimas das secas do Ceará e participou da cultura das seringueiras da Amazônia!

  10. Parabéns pelo artigo e pela resposta ao “jader” com letra minúscula, sim pois sabe-se que “jegue” também é substantivo comum e se escreve do mesmo modo!

  11. Muito paia? quem escreveu isso não pode ser gente.
    Vc vive onde imbecil?
    Ótimo post, parabéns.

  12. Breno de Paula

    Bela matéria Wellysson! Nós cearenses passamos pelo ensino fundamental, médio e superior sem estudar sequer uma página de História do Ceará, o que seria de extrema importância para o nosso conhecimento. O seu texto acrescentará muita bagagem aos realmente interessados em conhecer nossa história. Parabéns!

  13. porra, to chocado véi, sou do ceara, irmãos deixavam outros irmãos morrerem so para não aparecerem, porra…

  14. Muito boa sua matéria. Interessante ver outros capítulos esquecidos e ocultados da história da minha cidade, Fortaleza, e do meu estado, sendo expostos e divulgados para o conhecimento público. Infelizmente, essa mesma história não é contada e ensinada nas escolas de Ens. Fundamental e Médio daqui, ficando restrita a estudiosos mais interessados e a comunidade acadêmica das universidades federal e estadual.
    Parabenizo-o pela iniciativa de trazer a tona os males e flagelos da história do nosso Brasil. 🙂

  15. muito bacana a matéria. realmente não deu pra entender qual é a do “jader” ali em cima. O assunto é desprezível sim, um absurdo terem feito isso, mas a matéria está muito boa e bem escrita. Acho que o amigo ali fez alguma confusão, não é porque o tema trata de algo forte que a matéria é ruim. Sou do RJ e realmente por aqui nunca tinha ouvido falar dessa história, mesmo sendo um grande admirador de teorias conspiratórias, jamais esbarrei com tal fato, acho estranho algo tão grande passar durante tanto tempo, mas eu não duvido que tenha realmente acontecido, em um país que já teve ditadura e foi simpatizante do regime fascista italiano e alemão.

  16. Um post muito interessante e bem escrito para uma história triste, que mostra bem que o descaso com que as elites sempre trataram os menos favorecidos no Brasil. Parabéns!

  17. ESTOU EXTREMAMENTE SURPRESO DE SABER QUE TAL ACONTECIMENTO EXISTIU NO BRASIL, MUITO BEM FEITO O POST,PARABÉNS E OBRIGADO POR ME ..NOS DEIXAR A PAR DA NOSSA HISTÓRIA. QUEM ERA O GOVERNO DESSA ÉPOCA?

  18. Muito boa esta matéria! Eu moro há anos aqui no Ceará e nunca tinha ouvido falar nessa história! Valeu msm!

  19. Ótimo post, realmente nao conhecia tal história, faz bem em revelar tais informações ao povo brasileiro.

  20. eu acho um assunto muito besta
    porque a maioria das pessoas pensa em auchwitz, bikernau, enquanto issso
    não tem nada haver com o conteúdo do texto
    isso aí só diz respeito a trancaficar um bando de miséria pra eles não seguirem os trilhos e chegarem em fortaleza trazendo ébola, sarampo, variola
    enquanto bikernau era uma solução final de exterminio
    o campo de concentracao de senador pompeu era um campo sanitarista
    abraço

    • Jader…pena que meu pos não deu a você total compreensão sobre o campo de concentração de Senador Pompeu. Talvez meu post possa estar incompleto.
      O campo de Senador Pompeu não era um campo sanitarista pois as varias doenças que matavam a todos la surgiram por causa das baixas qualidades de vida. Sim, todos la eram pobres e queriam ir para Fortaleza tentar novas oportunidades de uma vida melhor assim como acontece hoje com os nordestinos vão para São Paulo tentar a sorte. Apesar de não ter muita relação com auchwitz e outros, as pessoas que la viveram foram enganadas com promessas falsas e só o que encontraram foi miséria, trabalho forçado e por fim morte apesar de não ser em câmaras de gás.

  21. Parabens foi um otimo post ,nao sei como o jarder nao entendeu ,afinal como o proprio no diz campo de “concentraçao” para impedir a migraçao para as capitais das populaçoes do sertao
    E mesmo entre campos nazistas ,existiem os campos de concentraçao e os campos de exterminios que tiam funçoes diferenciadasa primeira para prisioneiros de guerra e escravos e a segunda para os indesejaveis do Reich (todos sabemos quem são),E claro que com o passar do conflito todos passaram a ter funçoes iguais: de matar o maximo possivel ate serem ocupados e libertados

  22. Um capítulo negro na história do Brasil!!

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